quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Dança das Sombras






Lembro daquela noite inesquecível, não por ser algo digamos especial para alguém como um aniversário ou um encontro, mas foi meu primeiro ritual realizado. Pra mim foi algo fabuloso começou com uma ligação de um dos contatos de Cassius que queria que eu fizesse um ritual de proteção em seu refúgio, passei o dia todo pesquisando e em determinado momento do dia estava sentindo-me exausto quando Celine entrou porta a dentro com seu jeito sútil de ser dizendo:
- Hans não acredito que ainda está jogado nesses livros, estamos em uma cidade linda, vamos dar uma volta, venha.
E vendo aqueles olhos tão convidativos inclinei a cabeça novamente em direção aos livros e disse:
- Não posso Celine, ainda tenho que pesquisar o ritual pro amigo do Cassius, não quero em hipótese alguma falhar...
Antes que terminasse de falar ela apenas silenciou meus lábios com o indicador de uma das mãos e com a outra puxou-me da cadeira. Andamos um pouco pela cidade vislumbrando a paisagem, porém, o pensamento e expectativa do ritual não abandonavam minha mente.
Era fim de tarde quando repentinamente paramos em um parque o sol estava se pondo e ela para mim disse:
- Por que você é tão distante? Por que faz tanta questão de mostrar-se superior, não somente para os outros mas para si? Me diz o porque de não enxergar que o mundo está além do livros? Que a vida é muito mais que páginas? Eu passei muito tempo com pessoas que esqueceram o que é ter um coração, o que é importar-se com os outros, ter a companhia de alguém que irá lhe acompanhar talvez por um tempo ou talvez por toda uma vida. Eu queria apenas que você pudesse sentir isso.
Ao terminar de falar, desconcertada por estar chorando e fazendo aquela cena para mim ela levantou-se e quando fez menção de sair segurei então seu braço e respondi-lhe:
- Nunca tive pessoas perto de mim, digo  pessoas além daquelas que cresceram comigo então não conheço relações de proximidade, e tudo que sempre me centrei foi a busca por conhecimento, se mostro-me superior não sei, mas foi tudo que me fez atravessar cada um de meus dias, mas se estiver disposta a me ensinar a viver da forma como você diz que deve ser,por favor ensine-me.
Olhei para o relógio e vi que estava quase na hora marcada para encontrar com Cassius e seu amigo então olhando para ela disse:
- Tenho que ir agora, mas, quando voltar conversamos melhor.
Quando estava saindo em direção ao ponto marcado, Celine puxou-me o braço e beijou-me dizendo:
-Vá mas,volte e não deixe que sua sede lhe corrompa.
Chegando ao local marcado e no horário marcado de longe pude avistar os dois homens que me esperavam, andei em sua direção e ao me avistarem Cassius então disse:
- Hans está quase na hora vamos começar logo a montar o ritual, vamos montar logo os pilares.
Começamos juntando pilhas de pedras para formar os pilares e ao acabar de formar as pilhas posicionamos e então comecei o ritual dizendo:
- Trevas, dama da noite venha dançar neste momento, dance para aqueles que lhe clamam a presença, traga juntamente o vazio que és teu filho e pai, honre-nos com sua presença e daí nos um pouco do teu poder, nós que somos teus filhos, servos, amantes, adoradores e comtempladores.
Ao terminar de falar as pilhas de pedras foram envoltas pelas trevas, elas envolviam as pilhas como se estivessem dançando e em determinado momento começaram a me envolver de forma que pude sentir pelo meu corpo todo aquele poder, todo furor carregado nelas trespassando meu corpo como uma lâmina.
Em seguida com alguns carvões na mão chamei agora desta vez o fogo dizendo:
- Fogo, senhor de luz, venha ao meu chamado, compartilhe conosco teu poder, tua força com este humilde servo que a ti clama. Que tuas chamas incendeiem esta noite, incedeiem tudo aquilo que corrompe a luz, que livra-nos de nossas culpas, de nós mesmos, venham dancem para nós com sua onipotência. 
Depois de proferidas as palavras as chamas surgiram e começaram uma dança vibrante e envolvente, uma dança enérgica que contagiava e rodeavam-me como se estivessem brincando de pegar.
Depois dessas cenas que de tão belas e tão envolventes terminei a última parte do ritual que já duravam várias horas, o cansaço já tomava conta de mim, consumindo meu corpo juntamente com os elementos do ritual. Estava fraquejando de cansaço meu corpo estava pedindo por descanso, Cassius olhando pra mim sinalizou para mim procurar suportar aquilo então para terminar comecei a entoar a última e mais díficil parte.
- Fogo e trevas, dualidades da natureza, elementos sagrados e profanos unam-se em uma só matéria e concedam-nos seu poder e sua harmonia, que um possa purificar o desmando do outro e que ambos se completem neste ambiente que necessita de teu poder, daí-vos ao teu servo controle e propriedade sobre ti, este servo que não deseja ser manipulador de suas forças, mas sim detentor de sua força. E para terminar invoco as chamas negras e dou-me em sacrificio para provar que minhas palavras aqui proferidas são verdadeiras, são frutos de minha alma e meu ser. E prometo sempre zelar pelo equilibrio de tamanho poder que concedem através deste ritual.
Enquanto falava meu corpo ia sendo consumido por chamas e trevas, a cada instante que trevas e fogo se entrelaçavam em meu corpo o cheiro de carne assando e cinzas me possuia, durante um certo momento sentia uma dor lancinante que envolvia e penetrava meu corpo e aquilo deixava-me exausto por um lado mas por outro deixava-me totalmente extasiado. E juntamente com o turbilhão de chamas e trevas estavam meus sentidos e minhas forças findando-se a cada instante, estava esmorecendo quando ouvi uma voz rouca e grave, algo totalmente desconhecida pra mim que pronunciava palavras que soavam quase como um rugido:
- Filho das trevas e do fogo, se queres verdadeiramente ser domador de nossas naturezas, prove seu valor e suporte-nos de corpo e alma abertos.
A cada palavra que ouvia em minha mente surgiam espécie de flashs que narravam histórias de outros que igual a mim queriam o poder do dia e da noite.
Era quase dia, o sol começava a aparecer timidamente no céu como se estivesse aguardando a cena que anunciaria um inicio ou desfecho, não suportava mais aquela dor e cansaço meus branços não mais atendiam meus estímulos, minhas pernas já estavam inertes, meu corpo clamava por descanço. Quando finalmente pude sentir em vez de meu corpo ser consumido pelas chamas, ele consumi-las como se ele fosse uma bateria que estivesse recebendo carga e dissipar aquela energia para mim, de forma que sentia-me revigorado, mas, ainda exausto. Terminado o ritual tombei por terra e a última cena que lembro ver era de Cassius e o outro me amparando e levando-me em direção ao carro.
Passadas algumas horas acordei na casa de Cassius e olhando para o relógio levantei-me e fui em direção à minha casa, e ao chegar esperava encontrar Celine dormindo mas ao contrário, logo ao abrir a porta lá estava ela sentada no sofá e quando entrei com as roupas esfarrapadas e ferimentos à vista, ela cuidadosa e carinhosamente me abraçou e beijou. Este realmente foi um dia memorável para mim.          

       

sábado, 26 de janeiro de 2013

Besta Interior






Era madrugada quando cheguei da minha ronda de reconhecimento das ruas londrinas, cidade muito charmosa, entrei em casa juntamente com Celine ou Angelus como é chamada por aqui, tomei um banho e me deitei.
Estava dormindo quando acordei como se tivesse tido um pesadelo, acordei vendo-me no bar juntamente com o Cassius bebendo e brigando, mas, o que deixou-me digamos mais assombrado foi o que fiz durante a briga, eu vi quando peguei um dos caras que nos encomodou e o soquei a ponto de ver seu rosto desfigurar-se e ao ver continuar batendo como um animal que brinca com a caça, a cena se repetia várias e várias vezes com outros que estavam no local, e em cada cena podia ver um senso animalesco, um ar bestial que se regozijava a cada movimento, se alimentando de cada ser deformado ali. E o som da voz de Cassius ecoava ao fundo como se fizesse questão de que aquela besta emergisse à luz,gritando quase que como uma convoção de um gladiador para dirigir-se à arena.
Levantei-me da cama, fui em direção ao banheiro para tomar um banho, ficar um pouco em baixo do chuveiro para ver se com a água fria da noite conseguia refletir sobre o que via e perguntava-me se aquilo realmente aconteceu ou era um pesadelo.
Estava no chuveiro quando ouvi a voz de Celine me chamando e perguntando:
- Hans o que houve, você está bem? Percebi que estava tendo pesadelos, caso queira contar sou toda ouvidos.
Eu saí do banheiro e falei:
- O sonho ou pesadelo como quiser, parecia-me real, lembrava a última vez que estive com seu amigo Cassius naquele bar, via-me com uma imagem totalmente bestial.
Aos poucos fui contando-a sobre como tinha sido meu pesadelo enquanto andava pelo quarto, passando pelo espelho acabei vendo algo que deixou-me mais intrigado ainda, voltei e fui olhar-me novamente, ao ver meu reflexo no espelho pude perceber que todas as cicatrizes que pude ver em meu sonho, na verdade estavam ali, marcadas em meu corpo, cada uma delas, como troféus que não me pertenciam, eram simbolos que eu não os identificava. Então ela falou algo que fiquei a pensar:
- Hans então você está com um sério problema, eu há muito tempo ouvi falar de pessoas que possuem momentos de extrema fúria em batalha e isso é algo realmente preocupante se você estiver em grupo, mas no seu caso torna-se ainda mais peculiar pelo fato de você ter lapsos de memória de seu estado de fúria, coisa que é no mínimo intrigante, pois, acredita-se que o ser em estado de fúria perde totalmente a consciência.
Enquanto conversávamos as primeiras frestas de sol entravam pelas janelas do aposento, então fui em direção à janela, e pude recordar algo que há tempos não fazia que era contemplar o nascer do sol, Celine veio em minha direção e abraçou-me de uma forma diferente das demais vezes, seu abraço era mais caloroso,como se ela repassasse nele todo ou ao menos parte do calor daquele sol que raiava diante dos nossos olhos,ela aproximou-se ao meu ouvido e falou:
- Tenha cuidado, principalmene com Cassius, ele não é tão bonzinho quanto aparenta ser, tenha um bom dia ou boa noite se preferir vou deitar-me.
Ao terminar de falar beijou-me o rosto e foi em direção ao seu quarto e eu voltei a contemplar aquele espetáculo da natureza que tanto me enfeitiçava e me confortava, em seguida quando pude ver o sol alcançar totalmente o céu, andei em direção ao sofá e ali deitei-me.